EVANDRO FRANÇA
( BRASIL - DISTRITO FEDERAL )
“Até o fim do ano de 2015 eu contraí um câncer na coluna (...).
Dedico este livro a minha pessoa pela coragem e a cara de pau e também ao meu câncer que se não fosse por ele esse livro não teria saído.”
FRANÇA, Evandro. Curto e Fino. Brasília, DF: Gráfica e Editora Positiva, 2015. Ilustração da capa: Marcus Villela. Ilustração interna: Marcus Vilella. Prefácio: Silvana Pinotti. No. 10 863
RIO DOCE
Variável
como se coisa alguma
o determinasse,
nasce o rio
em direção da aurora.
Subtraindo-se para sempre
um lugar na memória
de quem olha.
O rio desce,
flagrante que levemente
açucarado
em tons de limão rosa
palha e canaviais.
O rio desce,
não há como contê-lo.
Ele evapora
e leva junto
o músculo da terra,
o sol de anteontem
e a luz do amanhã.
ANJO
O anjo que me habita
apaga as luzes do livro
mastiga vogais e sílabas
soletra serra e serrote
e ultrapassa os hiatos.
-Vai além das dissonâncias
E dos proparoxítonos.
Não é amarelo
nem de amianto
não anda nas nuvens
e nem usa calças.
Serra e martela
metralha e gera
ginga na jurema
oprime os duques
na sala de cerimônia.
Treina pulgas de cães
frequenta exposições de naftalina
comunga claramente cos os relâmpagos;
O anjo que me habita
me acompanha face a face.
ANJO DA GUARDA 2
Um anjo me acompanha
face a face.
Meu coração sé uma oficina
metalúrgica fundida.
Sou do futuro apóstolo e profeta,
vejo o tempo constelado
de visões sucessivas,
tendo o aspecto de irados céus
em meio a tempestade.
Um anjo
me acompanha pelo tempo
o rosto é severo e a boca amarga,
mistério e adolescência na palavra.
Inseparável
o anjo que me habita,
anjo nunca em sossego,
assim parece
a sombra de meu pai no cativeiro.
*
VEJA e LEIA outros poetas do DISTRITO FEDERAL em nosso Portal:
https://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/distrito_federal/distrito_federal.html
Página publicada em agosto de 2025;
|